
Laine correu. O mais rápido que conseguiu. Estava desesperada, amedrontada, não teve coragem de olhar para trás. Estava escuro, se orientava apenas pelos poucos raios da lua, que penetravam por entre as àrvores. Sua energia se esgotava, quase já não sentia mais suas pernas. Tropeçou num arbusto, bateu com o lado direito do rosto na terra úmida, a qual deixou à ela e seu vestido num estado ainda mais deplorável. Este passara à trapos, nem mais um vestido era. Não, não, ninguém vai me pegar...você nunca mais tocará em mim! Levantou num pulo e pôs-se a correr novamente, tão agil, de forma surpreendente tirou forças de onde não havia mais. Sua respiração era ofegante, o ar que lhe entrava pela boca passava cortante por sua garganta, já seca. Momento ou outro era esbofeteada por galhos de àrvores e plantas que encontrava no caminho.
Subitamente sua mente inundou-se por lembranças de sua infância. Ela tinha apenas 6 anos, parecia uma bonequinha, com seus cachinhos dourados e aquelas mãozinhas ágeis, que costumavam manusear constantemente lindas bonecas. Na hora de dormir, eram as histórias do pai que embalavam seus sonhos, mas além disso, era essencial que ele ajeitasse seu cobertor e lhe desse um beijo na testa, era como se fosse um ritual, seu mais doce ritual. E quando queria um colinho materno, bastava fazer manha que lá estava ela, acomodada no colo mais reconfortante do mundo.
De repente notou uma luz forte logo à frente, a cada passo a luz se intensificava mais e mais. Laine já não podia suportar, tudo começou a girar, suas forças esmoreceram, estava a ponto de se rastejar quando um clarão a cegou. Viu de relance pessoas, um carro com o farol acesso, luzes, deveriam ser lanternas. Um homem a segurou, evitando que caísse ao chão, ela tentou lutar, gritar, se desvencilhar, mas não tinha forças, sua visão estava cada vez mais indefinida...apagou.
- Senhorita Laine? Senhorita Laine? - Um policial a sacudia, tentando acordá-la, mas não obteve sucesso.
Esgotada, ela embarcara num sono profundo, distante. Lá em seu íntimo, o que mais queria era ser reconfortada pelo colo da mãe e, ouvir as histórias do pai.
- Coitada. Uma moça tão bonita consumida pela loucura. A sorte dela é seu marido, jamais cogitou a ideia de mandá-la a um sanatório. - Comentou uma policial, que também cuidava do caso. - Deve a amar demais!
Laine acordou assustada. Olhou ao redor, estava em sua cama macia, ouvia o canto dos pássaros, sentia um delicioso aroma de café. Olhou para o lado, uma bandeja repleta de coisas maravilhosas. Levou uma das mãos em direção à um bolinho de chocolate, o qual lhe deu àgua na boca. Estava faminta. Mas sua mão foi travada, então percebeu uma corrente em volta de seus pulsos, presos à cama. Tentou se mexer, soltou um gemido terrível de dor. Seu corpo estava dolorido por inteiro.
- Bom dia, meu bem! Teve bons sonhos? - Perguntou seu marido, com um sorriso sarcástico nos lábios.